Problemas técnicos põem em risco missão americana na Lua
Uma missão histórica privada, com o objetivo de chegar ao solo lunar, apresentou vários problemas técnicos nesta segunda-feira (8), que geram o temor de um fracasso, um revés para as expectativas americanas de levar ao satélite natural da Terra seu primeiro robô em cinco décadas.
O foguete Vulcan Centaur, da United Launch Alliance (ULA), decolou em sua viagem inaugural da Estação da Força Espacial dos EUA, em Cabo Cañaveral, na Flórida (sudeste), às 02h18 (04h18 no horário de Brasília), transportando o módulo de pouso lunar Peregrine da empresa americana Astrobotic, que conseguiu se separar com sucesso uma hora depois do lançamento.
Mas as equipes de controle em solo não conseguiram direcionar corretamente a nave não tripulada para o sol, ação necessária para que seus painéis obtenham a máxima geração de energia para os sistemas da Peregrine.
"A equipe acredita que a possível causa do direcionamento instável para o sol seja uma anomalia na propulsão que, se for comprovada, ameaça a capacidade da nave de pousar suavemente na Lua", destacou a Astrobotic em sua conta na rede social X (antigo Twitter).
A empresa acrescentou que atualmente a Peregrine sofre um corte de comunicações esperado e que daria mais informações assim que o contato for restabelecido.
Ainda segundo a Astrobotic, o módulo lunar sofre uma "perda crítica de propelente" o que torna quase certo o fracasso de sua alunissagem.
"A equipe trabalha para tentar estabilizar esta perda, mas dada a situação, priorizamos maximizar a captura de dados científicos", escreveu a empresa Astrobotic no X. "Atualmente, avaliamos quais perfis de missão alternativa são factíveis".
O módulo Peregrine foi desenvolvido pela Astrobotic com apoio da Agência Espacial Americana (Nasa), que encomendou à empresa o transporte de material científico até a Lua.
Espera-se que a nave alcance a órbita lunar e se mantenha ali por várias semanas antes de pousar em uma região de latitude média da Lua chamada Sinus Viscositatis, ou Baía da Aderência, em 23 de fevereiro, tornando-se a primeira companhia privada a realizar o feito.
Levar os Estados Unidos outra vez à superfície da Lua pela primeira vez desde a Apollo é "uma honra transcendental", disse John Thornton, CEO da Astrobotic.
Até agora, um pouso suave no satélite natural da Terra só foi alcançado por algumas agências espaciais nacionais: a União Soviética foi a primeira, em 1966, seguida pelos Estados Unidos, que continua a ser o único país a ter levado humanos à Lua.
A China tocou a superfície com sucesso três vezes na última década, enquanto a Índia foi a mais recente a alcançar o feito na sua segunda tentativa, no ano passado.
Os Estados Unidos recorrem ao setor privado em um esforço para estimular uma economia lunar mais ampla e enviar as suas próprias naves espaciais a baixo custo, no âmbito do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS).
- Uma tarefa desafiadora -
A Nasa pagou à Astrobotic mais de 100 milhões de dólares (489 milhões de reais na cotação atual) pela missão, enquanto outra empresa contratada, a Intuitive Machines, com sede em Houston, pretende lançar o seu foguete em fevereiro e pousar perto do polo sul da Lua.
"Acreditamos que isso permitirá viagens mais rápidas e econômicas à superfície lunar para se preparar para Artemis", disse Joel Kearns, vice-administrador associado de exploração da Nasa.
Artemis é o programa liderado pela Nasa para voltar a levar astronautas ao solo lunar no final desta década, como preparação para futuras missões a Marte.
O pouso controlado na Lua é um desafio, já que aproximadamente metade de todas as tentativas termina em fracasso. Na ausência de uma atmosfera que permita o uso de paraquedas, uma nave espacial deve navegar por terrenos traiçoeiros usando apenas os seus propulsores para frear a sua descida.
As missões privadas de Israel e do Japão, assim como uma tentativa recente da agência espacial russa, falharam, embora a Agência Espacial Japonesa pretenda conseguir o pouso do seu módulo SLIM, lançado em setembro passado, em meados de janeiro.
A Peregrine carrega um conjunto de instrumentos científicos que serão utilizados para estudar a radiação e a composição da superfície lunar, o que abriria caminho para o retorno dos astronautas.
Também leva um veículo do tamanho de uma caixa de sapatos construído pela Universidade Carnegie Mellon, um Bitcoin físico e, de forma um tanto controversa, restos cremados e DNA, incluindo os do criador de Star Trek, Gene Roddenberry, o lendário autor e cientista de ficção científica, Arthur C. Clarke e um cachorro.
A Nação Navajo, o maior povo indígena dos Estados Unidos, afirma que a missão à Lua profana um corpo que é sagrado para a sua cultura e defendeu a remoção da carga. Embora lhes tenha sido concedida uma reunião final com representantes da Casa Branca, da Nasa e de outros funcionários, as suas objeções foram ignoradas.
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