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Inteligência Artificial abala mercado editorial
Inteligência Artificial abala mercado editorial / foto: Kirill KUDRYAVTSEV - AFP

Inteligência Artificial abala mercado editorial

A Inteligência Artificial (IA) pode escrever como Salman Rushdie? O célebre autor é cético sobre isso. E o mundo editorial reunido na Feira do Livro de Frankfurt não esconde sua preocupação com a ideia de conteúdos gerados por computador.

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Como muitos outros setores, o mundo dos livros está em ebulição com a revolução tecnológica provocada por programas de Inteligência Artificial como o ChatGPT.

Os atores desta indústria mostram "um profundo sentimento de insegurança", afirma Juergen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt, a maior do mundo, que terminou no domingo e foi marcada por inúmeros debates sobre o tema.

Eles se perguntam "o que acontece com a propriedade intelectual dos autores, a quem realmente pertences os novos conteúdos, como integrá-los nas cadeias de valor", explica.

A Inteligência Artificial já está tendo impacto na tradução, mas é aplicada, sobretudo, na edição científica e jurídica e ainda é marginal na criação literária.

As máquinas ainda não têm inspiração para escrever romances, disse o autor britânico Salman Rushdie após ler um pequeno texto gerado "em seu estilo" por um programa.

"O que saiu era puro lixo", acrescentou, provocando risos dos participantes em uma entrevista coletiva na cidade alemã.

"Quem já leu 300 palavras minhas reconheceria imediatamente que é impossível que isso seja meu", acrescentou o escritor, despreocupado "por enquanto".

- Ajuda na escrita -

O desempenho da IA na ficção "ainda não é muito bom", argumentou a alemã Jennifer Becker, autora e universitária, em uma mesa-redonda.

"Ainda não vejo o momento em que confiaremos o trabalho de escrita à IA de forma totalmente autônoma", estimou.

"É grande o potencial para usá-la de forma colaborativa", como auxílio à escrita, observou.

Para os romances, que se baseiam em modelos narrativos estereotipados e de produção em massa, a IA oferece oportunidades, até "um certo alívio" para quem não terá mais de lidar com esse tipo de conteúdo, brincou Juergen Boss.

Mas tudo depende do tipo de publicação, segundo Susanne Barwick, consultora jurídica adjunta da Associação Alemã de Editores e Livreiros.

"O setor do livro científico e especializados já está mais avançado e se aprofundou mais no assunto", afirmou.

Mas, como a IA generativa utiliza milhares de milhões de textos para treinar seus algoritmos e criar conteúdo, isto pode levar a disputas legais.

- Quem é o autor? -

Uma das principais incógnitas é quem detém os direitos autorais do conteúdo gerado pela IA, disse Boos.

"Isso é uma verdadeira bagunça e uma questão muito importante. Há também muito dinheiro em jogo", diz ele.

Na plataforma KDP da Amazon, dedicada à autopublicação, já existem muitos livros gerados inteiramente por IA, afirmam especialistas. Alguns até aparecem entre os mais vendidos.

Agora, o KDP pede aos autores que declarem no site se suas obras foram geradas por máquinas (sejam textos, imagens, ou traduções).

Em setembro, vários escritores, como George R.R. Martin da saga "Game of Thrones", ou o rei do romance de suspense John Grisham, denunciaram a empresa californiana OpenAI nos Estados Unidos, que acusam de usar suas obras para criar ChatGPT sem respeitar seus direitos autorais.

Em uma carta aberta assinada por vários escritores, como Margaret Atwood e Dan Brown, o sindicato dos autores americanos (Authors Guild) alertou os gigantes da tecnologia.

"Milhões de livros, artigos, ensaios e poemas protegidos por direitos autorais constituem o 'alimento' dos sistemas de IA, uma refeição sem fim, para a qual não há conta", criticou a carta.

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