Bolívia fica parcialmente bloqueada por apoiadores de Morales
Com várias estradas bloqueadas, a Bolívia está parcialmente paralisada por protestos de agricultores que há nove dias pedem "o fim da perseguição judicial" contra seu líder, Evo Morales, investigado pelo suposto abuso de uma menor quando era presidente.
Os bloqueios nas estradas isolam Cochabamba de La Paz, Oruro, Potosí, Sucre e Santa Cruz. Em La Paz, a capital administrativa e sede do governo, os protestos elevaram os preços da cesta básica e longas filas se formam em torno dos postos de gasolina.
Nesta quarta-feira, motoristas de transporte público interromperam o trânsito em dezenas de rotas da cidade para reclamar da escassez de combustíveis.
"Não podemos mais trabalhar (...) Alguns passaram a noite toda na fila", disse Juan Mamani, motorista de ônibus de 53 anos.
O governo do presidente Luis Arce culpa os apoiadores de Morales por impedirem o abastecimento. Centenas de caminhões-tanque estão parados nas estradas ocupadas pelos manifestantes
A falta de diálogo entre os manifestantes e o governo, além do silêncio do Ministério Público sobre a "prisão" que anunciou contra Morales, investigado por "estupro, tráfico de pessoas e contrabando", alimentam a paralisação.
Morales acusa o presidente Luis Arce, seu ex-ministro, de tentar "vetá-lo" da corrida presidencial através da abertura de múltiplas investigações criminais.
Embora os protestos tenham começado com a intenção de evitar a possível prisão do líder aimará, agora exigem que Arce encontre uma saída para a crise derivada da falta de dólares e de combustível.
- Diálogo em ponto morto -
"A cultura política da Bolívia em geral é muito caudilhista (...) Tudo isso faz deste um cenário onde compreender, dialogar, concordar, é quase impossível", observa Daniel Valverde, professor de Ciências Políticas da Universidade René Moreno.
Os grupos próximos ao líder cocaleiro enviaram uma carta a Arce exigindo, além do "fim da perseguição judicial" ao líder aimará, seu reconhecimento como candidato do governo e a revogação de um pacote de normas.
"Não vamos ceder àqueles que querem incendiar o país para se proteger de acusações pessoais contra as quais devem mostrar a cara", respondeu Arce.
Os bloqueios passaram de quatro pontos para 20 desde o início dos protestos.
Até o momento, foram relatados confrontos nos pontos de Parotani, Pojo, Epizana e Caracollo, em Cochabamba. Em Puente Ichilo, em Santa Cruz, cerca de 700 policiais desbloquearam a estrada com gás lacrimogêneo nesta terça, mas foram depois afastados pelos manifestantes.
- Pauta sem novidades -
O estopim dos bloqueios foi o anúncio da promotora Sandra Gutiérrez de que preparava um mandado de prisão contra Morales pelo suposto abuso de uma menor com quem teria tido uma filha quando era presidente.
O ex-presidente garante que se trata de "mais uma mentira", já que o mesmo caso foi investigado e arquivado em 2020.
Os apoiadores de Morales exigem que Arce interrompa a investigação contra o ex-presidente , embora o procedimento esteja nas mãos de uma promotora supostamente independente.
- Economia paralisada -
Enquanto os agricultores também protestam contra a difícil situação que o país atravessa, os bloqueios levam a crise econômica ao limite.
As perdas econômicas devido aos bloqueios, iniciados em 14 de outubro, somam pelo menos 81 milhões de dólares (461 milhões de reais na cotação atual), segundo o Ministério da Economia.
Os dois principais centros econômicos da Bolívia, La Paz e Santa Cruz, estão separados por Cochabamba, a terceira região em produção que serve como área de trânsito.
O contexto econômico não é dos mais favoráveis: o país registrou uma inflação interanual de 6,2% em setembro, a mais alta desde julho de 2014.
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