Aposentado holandês ajuda a resolver mistério de inusitado órgão sexual de um morcego
O mistério de um dos maiores órgãos sexuais do reino animal parece ter sido resolvido graças a um aposentado holandês, que filmou morcegos durante um ato sexual no sótão de uma igreja.
O morcego-hortelão, conhecido como morcego serotino, não utiliza o seu enorme e inusitado pênis para a penetração, mas sim como um "braço copulador" no acasalamento, afirmou uma equipe de pesquisadores europeus na segunda-feira (20).
Esta é a primeira vez que um mamífero se reproduz sem penetração sexual, acrescentaram os especialistas.
Nicolas Fasel, pesquisador da Universidade de Lausanne, na Suíça, contou à AFP que sua equipe observa os morcegos serotinos há anos e descobriu que seu "pênis é superlongo quando ereto".
O órgão sexual do macho é aproximadamente sete vezes maior do que as vaginas das fêmeas da mesma espécie, de acordo com medições dos cientistas.
Para completar o cenário excêntrico, a cabeça do pênis se expande em formato de coração, o que deixou os cientistas perplexos.
"Não há como penetrar nessa estrutura", disse Fasel, que liderou um novo estudo publicado na revista Current Biology.
- 'Realmente surpreso' -
Conhecia-se relativamente pouco sobre como os morcegos acasalam, devido à dificuldade de observar o momento exato e os cientistas não haviam encontrado uma forma de resolver este mistério. Até que um dia Fasel recebeu um e-mail estranho.
"Pênis" foi a primeira palavra na linha de assunto do e-mail, seguida por um termo em holandês e a palavra "Eptesicus", do nome científico Eptesicus serotinus. Então o cientista arriscou abrir a mensagem e ver os vídeos enviados desta espécie comum nas florestas da Europa e da Ásia.
"Fiquei realmente surpreso porque tivemos a nossa resposta", disse.
O e-mail era de Jan Jeucken, um aposentado sem formação científica que mora na vila de Castenray, no sul da Holanda.
O homem estava interessado em uma população de morcegos serotinos que vivia no sótão de uma igreja local, onde instalou câmeras.
Fasel disse que a "paixão de Jeucken fez dele o melhor observador para entender os morcegos", então o aposentado foi nomeado coautor do estudo.
Os pesquisadores analisaram 93 acasalamentos no sótão da igreja, bem como quatro gravações em um centro de reabilitação de morcegos na Ucrânia.
Durante o ato, os machos agarram as fêmeas pela nuca e usam seus pênis como um braço extra para envolver e remover uma grande membrana utilizada para proteger a vagina, disseram os especialistas.
O abraço longo e silencioso chamado "acasalamento por contato" é o momento em que o sêmen é transferido, sem que os cientistas tenham certeza de como ele é produzido. O que podem confirmar é que o abdômen da fêmea contém restos destes fluidos.
Embora esta forma de reprodução, também chamada de "beijo cloacal", seja comum em aves, nunca havia sido observada em um mamífero.
O processo de acasalamento leva tempo. A duração média foi de 53 minutos, mas a mais longa chegou a quase 13 horas.
Fasel especulou que as fêmeas poderiam usar seus colos excepcionalmente longos para reter espermatozoides de vários machos durante meses antes de escolher com qual deles procriar.
É possível que outras espécies de morcegos acasalem sem penetração, disse o pesquisador, acrescentando que são necessárias mais pesquisas.
"Pudemos ver que existem muitas espécies com pênis bastante estranhos", completou.
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